24 agosto 2009

NÃO PERCA TEMPO PARTE I

Eu não entendia porque ela insistia tanto para que eu fosse. Era nebulosa demais em seus argumentos. Representava um papel que não era comum a ela. Agia de forma amadora quando falava e para se expressar usava de gestos largos e desnecessários para me convencer de que eu devia ir. Que eu não devia sequer hesitar e somente concordar. Era visível seu esforço na tentativa de me fazer perceber que seria melhor se eu acatasse com que ela insistia. Eu realmente não entendia, pensava eu, se for tão fantástico, se for de fato fazer alguma diferença eficaz qual será o motivo de ela estar tão desconfortável nessa insistência? Uma problema impossível de solucionar. Ela bem na minha frente, quase suando, olhos saltados, mãos trêmulas e seus lábios discretamente trêmulos também, imploravam para que eu não me importasse com o que me era desconhecido e me convencesse de que apenas indo com ela que eu entenderia toda essa sua histeria ausente de justificativas lógicas. Não que eu tivesse algo importante a fazer que não poderia me retirar de onde estava, só que não compreendia por que ela teria vindo até mim e insistisse tanto nesse deslocamento fora de hora. Ela que eu a conhecia razoavelmente bem e que até então não tinha me mostrado esse seu lado obscuro e desnorteado, como estava agora na minha frente, ficava apenas me chamando e me chamando que teimosamente fui resistindo ainda mais o seu convite tão desapropriado para aquele momento. Chegava ser patético e um pouco cômico a situação, vê-la feito criança que chora e puxa a saia da mãe para mostrar algo que está em outro lugar. Acontece que quanto mais ela se esperneava mais eu resistia. Um pouco para ver o que aconteceria se eu não fosse e um pouco para deixá-la ainda mais exausta. Ainda suportei essa brincadeira de vamos não vou por algum tempo até que passei a perceber que se eu não fosse logo, realmente talvez eu não visse mais o que tanto ela insistia para eu ver. Estiquei meu braço e lhe ofereci um sorriso de vencido e fui arrastado até fora daquele lugar que estava. Quando cheguei, eu vi. Mesmo que só um rastro, mas mesmo assim ainda consegui ver. E era lindo. Tão inexplicavelmente lindo que somente eu e ela saberíamos. Não fosse eu ter relutado tanto e me atrasado, eu provavelmente teria visto mais. Como teria.

Andy Gercker 24 de agosto de 2009.

É POR QUE JÁ ESTAVA NA HORA!

É com se fosse um outro dia.
Que deixei para trás todas aquelas velhas e cansadas sensações.
É hora de começar com tudo.
E de tomar uma xícara de café antes de tudo.
Acordei antes de enlouquecer.
Acordei.
Viva, acordei.
É clichê, antigo, demodê:
Mas está na hora de pensar no futuro.
Estou quase mais feliz.
Quase.
Vou começar a não pensar mais naquilo que faltou você me dizer.
Vou reaprender a gostar das coisas.
Irei esquecer os lugares que eram nossos.
E do teu cheiro azedo que gostava vou passar a não lembrar.
É a hora.
É a hora de começar.
Vou lavar os pratos, reler os livros que não entendi.
Vou me ater ao invisível e deixar ele me transbordar.
Sou capaz até de gritar.
Porque está na hora.
Está na hora de recomeçar.
Quero me molhar.
Lavar o que deixei obscuro.
Quero quem sabe até cantar.
Não quero que me ouça.
Quero apenas recomeçar.
Vou me livrar de pensamentos enfadonhos.
E me preparar para o que vai chegar.
Por que vai chegar.
Eu sei que vai.
E eu quero estar pronto.
Ileso do que passou e certo de que estou num outro dia.
Pra começar com tudo.
Tudo que tem que acontecer depois de tomar um café.
Pra recomeçar.
Pra começar.

Andy Gercker 24 de agosto de 2009.