11 novembro 2010


É muito simples meu caro amigo, arraste-me pelo cabelo até a sarjeta mais próxima, a valeta mais imunda que encontrar e livre-se do meu corpo por lá. Se você não sabe o que fazer comigo agora, foda-se. Mas arrume um jeito de resolver essa merda que você se meteu. Pense numa maneira de limpar essa cagada que você conseguiu fazer. Confesso que mesmo sendo a mais fudida nessa história toda, ainda assim acho graça, assistir essa sua cara de apavorado machão que não consegue sequer desarmar os ombros.
(esse não é um relato de uma defunta, alma penada ou qualquer tipo de espírito tentando fazer contato, mas aquilo que falaria se pudesse)
Você pode me atear fogo. Tá certo que seria excessivo, performance gratuita, espetáculo desnecessário, além do mais a força do fogo com suas cores o impressionariam tanto a ponto de que você nunca mais poderia fechar seus olhos pra dormir tranqüilo. Fogo não, melhor não. E lançar-me ao mar exigiria uma exaustiva produção para realizar o “evento do desaparecimento” desse corpo que está jogado aos seus pés, que inclusive gostaria de pedir pra que não pisasse nos meus cabelos. Por obséquio.
Não tenho a intenção de irritar vossa senhoria, mas será que já existe algum palpite referente à conclusão desse ato tão gentil? De desfigurar minha cara, rasgar meu corpo e tirar o direito de criar minha filha que deixo para aquela minha mãe que não quis/não pode/ ou (mais sonsa ainda) não soube o que fazer comigo, exatamente como você nesse instante que não sabe também o que fazer comigo jogada a seus pés.
Embora eu tenha tido uma educação ordeira de um afetuoso pai que carrega nas costas ou na alma ou na consciência a acusação de ser um estuprador, mesmo assim, eu ainda consegui evoluir. Fui destemida. Com apenas minha beleza no bolso, trunfo que considerava suficiente para me levar a qualquer outro lugar exceto esse em que me encontro aqui. Garoto que nasceu e continuou pobre e perturbado que não teve pais, que fez fama e farreou na cama já decidiu o que fazer comigo? Vamos filho da puta, seja rápido, já se passaram alguns segundos e nada. Não quero ser a chata, não quero atrapalhar o seu fluxo de pensamento, mas acontece meu querido e prezado protótipo de ex futuro esposo, que feder é o que eu não gostaria. Se é que me permite o direito de algum desejo, um ao menos, porque se pudesse ter o privilégio de fazer três pedidos, além de não querer feder o segundo pedido seria o de pedir piedade para o pequeno anjo que já nasceu com seu passado sujo de sangue, pra deixá-lo ter a chance de não fazer jus ao nome do pai que carrega no seu nome também. Pra terceiro pedido eu peço com certa urgência pra que decida logo o que vai fazer com meu corpo, aqui jogada a seus pés, porra! (situação mais patética impossível). Perfeito. Ótima escolha. Chamar os amigos pra desossar-me. Sábia decisão, agora me enterre espalhada por esse sítio. Excelente. Depois de você esquecer as estocadas de farpado que levará no seu merecido cu pelo seu prato predileto (macarrão) prometo que arrumarei um jeito de brotar a cada primavera de meu Bruno.

Andy Gercker - ... 2010

05 novembro 2010

16 AOS 30

Ela sentou-se ao meu lado e sem que eu pudesse entender a ordem das coisas, de sentar-me e cumprimentar as pessoas e fazer aquela cara de ok me adaptei. Abruptamente fui surpreendido por duas mãos gigantes vindo em direção a minha cara na intenção de extrair um cravo. Não fosse meu reflexo preciso, estaria eu nesse instante deitado numa mesa de cirurgia tentando reconstruir meu rosto. Há dias eu vinha lidando com o sufoco de ter nascido na minha espinha uma cara. Sim, a essa altura eu já considerava a espinha como um ser digno de afeto. Ela, a espinha já estava morando na minha cara quase uma semana. Ela chegou tímida, bancando a sonsa e eu na minha ingenuidade ainda dei um creminho pra matar sua fome, pra não deixar de ser educado e quando menos esperava, ela se instalou, reinava absoluta e ordinária na minha face. Pensei: como me livrar desse diabo que encarnou em mim? Que mais parece parente pobre, daqueles que chegam e esquecem de ir (ou que fingem que esquecem, o que faz mais sentido). O que ela estava confundindo com um cravo nada mais era do que uma pequena casca, o ultimo vestígio da atrocidade que eu mesmo executei na manha daquele dia. Acordei e na frente do espelho do banheiro minhas pernas cambalearam, tive um breve e instantâneo infarto. Não deixei por menos, lavei minhas mãos e feito assassino feroz empurrei contra a parede aquele alien que tinha me invadido, tomado conta da minha cara. Foi rápido, seus excrementos e sangue ejetaram humilhados. Novamente minhas pernas cambalearam e dessa vez quase foi óbito. Um orgasmo. Detesto esse instante e não compreendo como tem gente que diz adorar, inclusive adora o som que sai. Não estou falando do orgasmo, que fique claro. É nojento. Abominável. Enfim, a intenção dela era ajudar-me ou apenas saciar seu desejo em beneficio a seu próprio prazer? De qualquer forma fui salvo pelo meu reflexo certeiro que impediu que acontecesse uma catástrofe maior. Ela nem desconfia da missa, a missa da semana, mas eu que literalmente senti na carne, agora me sinto aliviado por ter sido grosseiro ao boicotar a iniciativa dela. Eu preciso deixar de ter 16 aos trinta anos.

Andy Gercker - Rj 05-11-2010