28 março 2012

as vezes eu ensaio minha morte.
eu tiro o volume da televisão e programo o aparelho no timer, no sleep, no desligamento automático, eu mesmo programo o tempo que preciso. fecho os olhos e apenas sinto a vibração da luz vinda da tela brigando ou brincando com a parede. e fico ali pensando nas coisas que eu gostaria de pensar antes de morrer. então de supetão a luz apaga. tudo acaba. acho que quando se morre é assim. pode ser que naquele momento você seja tomado por um frio violento, uma forte onda de gelo que atravessa seu corpo, mas que logo em seguida lhe desce um… um… um tesão da porra. e é como se você tivesse um orgasmo de proporções… astronômicas, inimagináveis, delirantes, mas que logo assim que você recupera os sentidos e percebe o que de fato aconteceu é que você conclui. ah sim, você morreu. e então simplesmente, sem grande esforço você adormece. 

andy g. 
b.peixoto/copacabana/rj 
28.03.12 bem tarde pra quem vai acordar cedo. 

18 março 2012

PEQUENO ESCÂNDALO NA ORDEM DAS COISAS

- Onde estão minhas fotos? Onde estão minhas fotos? Me diz, onde estão minhas fotos? Devolva, são minhas, eu as fotografei são minhas, devolva, por que essas gavetas não abrem? entregue minhas roupas preciso sair daqui. Onde estão minhas fotos? Não me encoste, não me fale, não me olhe, devolva minhas fotos, entregue minhas roupas. Sim, eu estou exageradamente desesperada, eu preciso sair daqui, estou ficando infeliz. Eu as tirei. São minhas. Por que você fez isso? Eu confiei em você. Eu só tinha você. E você sabia disso. Quem é você? Sai da minha frente. Eu não te conheço mais. Eu tenho nojo de você. Eu sinto raiva de você. Eu estou com saudades de você. Acende a luz. Me dê as chaves. Tire essa música. Devolva minhas fotos, eu as tirei não é você. Eu não quero ouvir nada. Eu sinto medo. Eu grito sim, me deixa. Entregue minhas roupas. Não me encosta. Para onde eu vou? Você quer saber para onde eu vou? Agora? Agora você quer saber para onde eu vou? Eu te amo. Abra a porta. Eu tenho medo de você. Foda-se minhas coisas. Não me olha. Por que você foi fazer isso? Por que você foi fazer isso comigo? Me diz. Olha para mim. Eu não te conheço mais, pode falar. Olha para mim. Não, não olha para mim, dói. Eu dormi por muito tempo? Me fala. Eu estou dormindo muito tempo? Há quanto tempo estou dormindo sem te ver, me diz porra! Você é tão lindo. Devolva minhas fotos, eu só as quero, me devolva eu quero ir embora. Não me encosta. Não quero ouvir. Por que você me machucou assim? Fala. Tira essa porcaria dessa musica. Acenda essa luz. Devolva minhas roupas. Entregue as fotos e as chaves. Eu te cansei? Eu fiz você passar vergonha? Eu sou pouco? Eu te amo tanto. Eu não me conhecia antes de você. Eu não existia antes de você. Para onde você foi? Alguém diz aquilo que eu não te disse? Alguém consegue ser mais feliz com você do que eu fui? Me diz. Grita. Me livra dessa culpa. Eu te amo. Você é tão lindo. Me beija. Aproveite que estou nua e me suja. Mais. No chão? Você quer que eu me deite no chão? No sofá? Você quer que eu suba no sofá? No balcão? Onde você quer? No banheiro? No tapete? Quer que eu volte para nossa cama e volte dormir? Onde você quer porra, me diz. Aumente a musica, deixe as luzes apagadas e me suje. Mais. Por que você não me quer mais? Não fale. Dói. Quer que eu volte dormir? Eu te deixo ser feliz no sonho. Estou me sentindo infeliz. Humilhada. Devolva minhas fotos, abra a merda da porta, não fale nada, me deixe desaparecer, entregue minhas roupas, por que essas gavetas não abrem? Eu te amo e sinto nojo de você. Eu sou pouco? Eu sou muito pouco? Eu te cansei? Eu estou gritando sim porque dói. Porque você me fez doer. Que cara de pateta você tem. Um bolha, você é um bolha que eu amo tanto seu bolha uma porra de uma bolha um tremendo filho de uma puta bolha que eu amo tanto. Estou, estou exageradamente desesperada, exageradamente perdida, exageradamente sozinha. Escuta. Escuta. Você esta ouvindo? Tem pessoas me ouvindo. Tem pessoas querendo descobrir o que você fez comigo. Entregue as chaves, abra a porta, conte para essas pessoas o que você fez comigo, o que você conseguiu fazer comigo. Conte seu porra, seu bolha. Ele já vai abrir, esperem. Ele já vai contar. Vamos. Estamos esperando. Eu para sair eles para ouvirem. Quer me sujar antes de sair? Me diz, você quer me sujar antes de eu sair? Você quer me sujar na frente deles? Vamos. Eu quero, eu quero que você me suje mais uma vez a ultima vez. Na frente de todos enquanto você fala, enquanto você grita, enquanto você se humilha, enquanto você se livra de mim você me suja mais uma vez a ultima vez. Abra a merda da porta. Tire essa musica. Devolva minhas fotos, eu as tirei, são minhas. Por que essas gavetas não abrem? Estou, estou completamente exageradamente infeliz. Você gosta dessas plantas? E desse vaso? Você acha pesado esse vaso? Você acha bonito e pesado esse vaso? Me fala porra. E essa vidraça você acha resistente? Não me encosta. Aumente essa musica. Acenda essa luz. E me veja. Nua pela ultima vez. Nua. Suja. Infeliz. Pouca. Você gosta do barulho de vidros? Ouça. Me diz, você gosta desse barulho de vidros? Não está ouvindo? Eu disse para tirar a musica. Você esta me vendo? Esta vendo o que você conseguiu fazer comigo? Eu te amo tanto. Espero que você encontre as chaves que você consiga abrir as gavetas, você vai precisar abrir as gavetas antes de abrir a porta e contar para todas essas pessoas o que você conseguiu fazer comigo. Esta sentindo esse vento? Desculpa pela vidraça, desculpa pelo vaso, desculpa pelas malditas plantas. Desculpa por ter me apaixonado por você. Desculpa por não ter conseguido ser mais que pouco. Desculpa por te fazer feliz enquanto eu me fazia feliz, enquanto eu me conhecia. Olhe para mim. Olhe para mim pela ultima vez. Nua. Suja. Infeliz. Pouca. Exageradamente infeliz... Desculpa. Aumente a musica... Cuide bem de minhas fotos... Estou indo para te esperar.   

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Andy Gercker
05 Dezembro 2007

12 março 2012

chega um momento na vida que o mundo te exige uma decisão: ou você grita e joga tudo fora ou você cala. e esse silencio pode ser tão ou mais pesado que o peso que seria de ter jogado tudo para fora. voltar ao tempo não tem como. o melhor seria inverter. bem na real isso pode acontecer a qualquer instante. e a quem disso nem consegue entender, não se tem o que fazer nem o que dizer. uma hora os eixos se encontram num novo ciclo, quem sabe não acontece um reencontro? o tal realinhamento... tudo pode ser ou não. mas que o peso de jogar tudo fora é pesado, isso é.  


Andy Gercker 
12 de Março de 2012
B. Peixoto/Copacabana/RJ 


                                 A Poesia de Mauá. Desenho de criança.