25 junho 2014

Ele gritava muito alto no meio da noite.
Devia doer aquele coração para gritar tão forte.
Parecia que queimava tudo aquilo que pensava.
Vontade minha de sair na rua.
Levantar da cama.
Ir atrás daquela voz.
Mas medo de um tiro.
De me intrometer onde não preciso.
Eu mesmo não mudaria nada.
Só daria de comer a minha abelhudice.
Sossega que logo passa.
Volte com o som da tevê.
Que a noite escorrega como tem que ser.
E esse grito arde mais.
Espaçados agora.
Entra ar naqueles pulmões.
Talvez estivesse se conformando.
De repente parou.
E parecia que ia se aproximando.
Eu sentado na cama.
Já tinha ido até a janela.
Algumas vezes.
Ele não gritava mais.
Quer dizer.
Não. Não gritava mais.
Foi só impressão.
Eu que queria ouvir mais.
O grito dele me fazia bem.
Aliviava o meu abafado.
Inesperadamente um chute na porta.
E deu tempo de perceber que ele era forte.


Andy Gercker
25 junho 2014