14 abril 2021

Não mais carregar nas costas

os problemas do mundo,

mas levá-los no colo. 


Andy Gercker

4.4.2020


01 abril 2021

Comece estendendo sua mão

feche os olhos se quiser

recupere uma ilusão

agora fique aí 

se agarre a esse pensamento

experimente terra firme 

tudo que te foi dito

foi mal explicado

o que te fez cansar

ainda nem chegou

agora abra os olhos 


Andy Gercker




Árvore é Verde

Todo Verde é Gente

Gente é Verde 


Andy Gercker 

04 julho 2016

* eu não entendia * por que ela tanto insistia * para que eu fosse * era confusa demais * em seus argumentos * parecia que representava um papel * isso não era muito comum a ela * agia de forma amadora * enquanto falava * para se expressar * usava gestos largos e exagerados * para me convencer * que eu deveria * ir * que não devia sequer * hesitar * somente concordar * era visível seu esforço * de me fazer perceber * que seria melhor * se eu acatasse * o que ela insistia * eu realmente não entendia * pensava eu * se for * tão fantástico assim * se for * de fato fazer alguma diferença * eficaz * qual o motivo * de ela estar * tão desconfortável * nessa insistência * um problema impossível de solucionar * ela * bem na minha frente * quase suando * olhos saltados * mãos trêmulas * seus lábios trêmulos também * implorava * que eu não me importasse * com que me era desconhecido * apenas me convencesse * de que apenas indo * com ela * eu entenderia * toda sua histeria * ausente de justificativas lógicas * não que eu tivesse algo importante a fazer * que não pudesse ir * só não compreendia * por que * ela teria vindo * até mim * e insistisse * tanto * nesse deslocamento * fora de hora * ela * a quem eu conhecia razoavelmente * bem * que até então * não tinha me mostrado * esse lado * obscuro e desnorteado * como que estava agora * na minha frente * apenas me chamando * me chamando * seu convite * tão desapropriado * para aquele momento * que chegava ser patético * e um pouco cômico * a situação * vê-la feito criança * que chora e puxa a saia da mãe * para mostrar algo que está em outro lugar * acontece que quanto mais ela esperneava * mais eu resistia * um pouco para ver o que aconteceria * se eu não fosse * e um pouco para deixá-la * ainda mais exausta * suportei essa brincadeira de vamos não vou por algum tempo * até que percebi * que se eu não fosse * logo * talvez * não visse mais * ela insistia * para eu ver * estiquei meu braço * lhe ofereci um sorriso de vencido * e fui * pra fora daquele lugar em que estávamos * quando cheguei * vi * mesmo que só um rastro * mesmo assim * ainda vi * e era lindo * tão * inexplicavelmente * lindo * somente eu * e ela * saberíamos * não fosse eu ter relutado tanto * e me atrasado tanto * provavelmente * teria visto muito mais * como teria *

Andy Gercker

10 setembro 2014

Não há ao certo como entender a vida!
Mas quando alguém descobre que um outro consegue revelar sua vida, quando um leitor identifica sua própria vida escondida no coração de um escritor é então que a vida começa fazer mais sentido.


Andy Gercker 
10 setembro 2014

25 junho 2014

Ele gritava muito alto no meio da noite.
Devia doer aquele coração para gritar tão forte.
Parecia que queimava tudo aquilo que pensava.
Vontade minha de sair na rua.
Levantar da cama.
Ir atrás daquela voz.
Mas medo de um tiro.
De me intrometer onde não preciso.
Eu mesmo não mudaria nada.
Só daria de comer a minha abelhudice.
Sossega que logo passa.
Volte com o som da tevê.
Que a noite escorrega como tem que ser.
E esse grito arde mais.
Espaçados agora.
Entra ar naqueles pulmões.
Talvez estivesse se conformando.
De repente parou.
E parecia que ia se aproximando.
Eu sentado na cama.
Já tinha ido até a janela.
Algumas vezes.
Ele não gritava mais.
Quer dizer.
Não. Não gritava mais.
Foi só impressão.
Eu que queria ouvir mais.
O grito dele me fazia bem.
Aliviava o meu abafado.
Inesperadamente um chute na porta.
E deu tempo de perceber que ele era forte.


Andy Gercker
25 junho 2014

30 março 2014

Não existe diferença entre eu e você. Não existe diferença entre o que você pensa e o que eu penso. A diferença se é que existe, já que insiste, está no tempo das coisas. A diferença do tempo. Formaríamos um divertido casal. Uma boa dupla. Mas o tempo, esse animal arisco, escorrega entre as folhas do calendário. A sintonia fora do ar. A estação mais fria. Se agora não nos podemos. Ontem não tardará em voltar. Oferecemos tempo que noutra esquina, tão perto, ainda havemos de nos reencontrar.

Andy Gercker
30.03.2014
E pra tudo acabar em. No mais profundo e violento desejo. Selvageria. E por que não somos livres? Se tudo que se consome é pra esse fim?! Sou cria dessa cisma burra e careta. O comum seria na rua quando se precisasse. Posso ter um dia de escritor em casa sem culpa? Posso buscar tranquilidade para esse canto de dentro? Estamos atravessando a era do tédio. O tédio em seu trivial destino desfila por entre minha rua e depois circula a cidade inteira e sufoca a todos. Quero conhecer um ser humano ao menos que foi capaz de pensar a vida sem que tenha esbarrado com a tristeza. Fico nu em casa então. Em protesto solo. Aguardando notícias de outros mundos pelos aplicativos. Alguém há de querer entrar nesta dança. Aguardemos. Como sempre. Não adianta querer buscar sentido quando o sentido é o que menos se deseja. Fuma. Você não precisa ir para a rua. Você nesse momento não precisa. Aproveite. Correr para que? Comer por que? Sair para onde? Ah sim, pra acabar tudo em. Hoje dispenso. Preciso entender três coisas:

1.     onde foi mesmo que guardei todas aquelas sensações?
2.     quem avisou a policia que estou morto?
3.     do que eu lembro antes da patada do leão?




 Andy Gercker 
29.03.2014

Acidente 1

Andy e Ana ao telefone:

explodiu
o que?
o computador
onde?
na cara
de quem?
Jean
quando?
agora
como assim?
eu vi.
espera aí, o que está acontecendo?
tem pedaço dele em mim.
pedaço?
da cabeça eu acho.
que nojo.
pois é.
onde é?
aqui.
onde fica?
na frente.
do que? eu vou ficar doida.
da minha casa.
fala mais alto.
casa.
na frente da sua casa?
é.
Jean?
é.
não conheço.
meu namorado.
desde quando você tem namorado?
tinha.
desde quando você tinha namorado?
desde de sexta.
caralho.
agora a cabeça dele explodiu.
se isso for brincadeira eu vou ficar puta.
tem pedaço dele em mim. na minha boca.
cospe.
o que?
o pedaço dele.
pronto.
cuspiu?
cuspi.
ótimo. estou indo praí.
Ana.
que?
chama a policia.



Andy Gercker 
29.03.2014

17 março 2014

Quão fundo ainda pretende essa desenfreada agonia passear pelos azedos caminhos do delírio? E até onde suportará essa ânsia moribunda e triturada de recomeços? Já queimou e virou cinzas todo volume de esperanças. É do pó, a urtiga do que virá. Poderiam muito bem sair da minha frente esses selvagens tapetes de cordas pesadas pra acertarem outra cara. Mas me atravessou rasgando fundo a carne com aquela frase. No mais áspero desejo de não querer fazer sofrer. Mas é assim a vida. Comentou o alienado. Adeus agitação. Possível domador de fontes novas. Quão cansado ainda ficará o relógio? Dilacerante e banal como qualquer canto que se cante. Nas mãos suadas e bêbadas algumas respostas vacilantes experimentam recolocar a ordem dos pensamentos. Tem o impacto de uma descarga elétrica de alta intensidade e de longa distância. Que derruba. Que ofende. Que entristece. Adeus aquele plano. Adeus aquela idéia. Até talvez mais um domingo. Fissura desgastada pelo monótono exercício do destino. Um pássaro de asa quebrada que sabe reconhecer o sublime impulso de um voo saberá num momento importante voltar a ser valente. Em paz. Sem sofrimento. Para outra vez. Arde na bunda o peso do coice de um animal ideal. É possível acreditar que conseguirá recobrar a razão? Jamais. Que apaguem as luzes e se faça silêncio. Esta noite preciso chorar.


Andy Gercker
17.03.2014
Bairro Peixoto.
RJ





05 março 2014

Pronto, agora ele cismou que.

Passar a vida pensando para que serve a vida.
Passar a vida pensando.
E não sabe como fazer dinheiro do que pensa.
Não ganha para pensar.
Mas pensa.
Teimoso esse menino.

Pronto, agora ele cismou que.

Vai mudar as coisas de lugar.
Para encontrar um lugar.
Em que possa esconder.
As coisas fora do lugar.
Mas que teimoso esse menino, ele não vai encontrar.

Pronto, agora ele cismou.



Andy Gercker
04.03.2014
Bairro Peixoto
Copacabana
RJ