22 setembro 2010

ATRAVESSANDO UMA NOITE TRISTE

Outro dia já era quase duas da manha e eu já fritava na cama umas 4 horas... Foi aí que resolvi levantar da cama, acender um cigarro e ouvir uma musica bem alto, uma musica daquelas que perfuram, de vozes rasgadas e de melodias ardidas. Foi o que fiz, acendi um pequeno abajur e sentei-me de cabelos armados e pijama esgarçado ao lado da janela da sala e ouvia a musica e tragava aquele gosto amargo do cigarro e tentava me concentrar em qualquer coisa menos dolorida. Quando eu já estava em alfa, em contato com qualquer mundo gelado e secreto e ausente de som... Explodiu alto na minha cabeça a maldita campanhia insistentemente, eu fiquei uns instantes antes de abrir a porta pensando no dedo da pessoa que devia estar cansado de tanto apertar o maldito botão. Eu, como dedo nessa hora me revoltaria, teria uma câimbra VOLUNTARIA, onde já se viu... Isso não é respeito ao corpo. Enfim, abro a porta e vejo a cara amassada de uma pessoa que eu nunca vi na minha vida. Uma senhora azeda meio verde com cara de puta. Puta de raiva não de profissão, porque mais parecia mesmo uma carola de alguma congregação de irmãs católicas espumando palavras do tipo: você tem idéia de hora seja isso? De que existem pessoas dormindo que trabalharam o dia inteiro e que acordam cedo porque tem uma família pra sustentar e não que são uns desocupados que não faz nada o dia inteiro e que por isso acham que tem o direito de ouvir uma musica como esta, alta desse jeito? Ainda se fosse uma sertaneja. Isso ela aos berros gesticulando na minha frente e eu ouvia toda essa balburdia, mas era como se eu não estivesse ali, eu via essa senhora como se fossem projeções de um clipe da Bjork todo estranho todo colorido, num susto eu voltei à tona quando ela disse qualquer coisa sobre chamar o sindico ou se ela era a sindica. Eu sou tão informado do que acontece do lado de fora de minha casa q ainda acho q o Sarney é presidente do Brasil. Eu olhei profundamente nos olhos daquela senhora e disse não, hoje não dá. Não posso, eu PRECISO ouvir a musica nessa altura, eu tenho o direito de sofrer sozinho a minha dor. Com a porra da musica que eu quiser, e no volume que eu quiser a senhora volte pra sua casa, entupa seus ouvidos com algodão, olhe pra cara de seu marido turrão e meio bêbado jogado na cama e proponha qualquer coisa erótica depois suporte aqueles peidos de repolho dele e durma. E me deixe, eu não tenho família não e também já me conformei com isso, porra. Eu NÃO tenho o que fazer durante o dia, portanto eu tenho muito pra pensar durante a noite.

Andy Gercker - alguma noite de 2008... por aí.