26 dezembro 2012

O CARRASCO

- o que você me conta dele?
- pouco sei dizer! 
- e o que pode me dizer?
- eu o percebo.
- não o vê?
- percebo.
- e o que percebe?
- que envelheceu.
- sim.
- que sua barba e seu cabelo agora é branco. 
- algo mais?
- e que está mais magro.
- sim.
- ele continua…
- continua…?
- me assustando. 
- te dá medo?
- pavor.
- algo mais?
- e pena. 
- sente amor?
- nunca foi. 
- o que fazes?
- não me alimento com ele.
- porque?
- tenho nojo.
- nojo?
- e tristeza.
- diga a ele
- não me entenderia. 
- é medo?
- já disse, é pavor. 
- um abraço?
- nem pensar.
- nem pensar?
- doeria. 
- ainda mais?
- …
- ainda mais?
- …
- ainda mais?
- ainda mais! 
- tudo bem.
- eu não o encaro.
- tudo bem.
- eu não consigo o encarar.
- está tudo bem. 
- não, não está tudo bem.
- não está?
- faz muito tempo que não.
- e quando vai acabar?
- não vai.
- não vai?
- nunca.
- resolva isso com ele.
- não posso.
- mas ele está na sua frente
- não está.
- te digo que está.
- não se está, quando não se existe! 

andygercker/garuva/25.12.2012

GARUVA É MINHA CHARLEVILLE

despenquei do mais alto cume da ilusão
quando ecoou em mim o grito do poeta! 
sussurrou em minhas pupilas a luz do dia e
ganhei uma nova vida em vida.
não serei um tolo. apanhou-me a lucidez. 
quis meu destino salvar minh´alma
e levar-me pelos braços.
agora sou outro! sou finalmente eu. 
dê-me a sua mão ou escreva sobre mim. 

andygercker/garuva/25.12.12