05 novembro 2010

16 AOS 30

Ela sentou-se ao meu lado e sem que eu pudesse entender a ordem das coisas, de sentar-me e cumprimentar as pessoas e fazer aquela cara de ok me adaptei. Abruptamente fui surpreendido por duas mãos gigantes vindo em direção a minha cara na intenção de extrair um cravo. Não fosse meu reflexo preciso, estaria eu nesse instante deitado numa mesa de cirurgia tentando reconstruir meu rosto. Há dias eu vinha lidando com o sufoco de ter nascido na minha espinha uma cara. Sim, a essa altura eu já considerava a espinha como um ser digno de afeto. Ela, a espinha já estava morando na minha cara quase uma semana. Ela chegou tímida, bancando a sonsa e eu na minha ingenuidade ainda dei um creminho pra matar sua fome, pra não deixar de ser educado e quando menos esperava, ela se instalou, reinava absoluta e ordinária na minha face. Pensei: como me livrar desse diabo que encarnou em mim? Que mais parece parente pobre, daqueles que chegam e esquecem de ir (ou que fingem que esquecem, o que faz mais sentido). O que ela estava confundindo com um cravo nada mais era do que uma pequena casca, o ultimo vestígio da atrocidade que eu mesmo executei na manha daquele dia. Acordei e na frente do espelho do banheiro minhas pernas cambalearam, tive um breve e instantâneo infarto. Não deixei por menos, lavei minhas mãos e feito assassino feroz empurrei contra a parede aquele alien que tinha me invadido, tomado conta da minha cara. Foi rápido, seus excrementos e sangue ejetaram humilhados. Novamente minhas pernas cambalearam e dessa vez quase foi óbito. Um orgasmo. Detesto esse instante e não compreendo como tem gente que diz adorar, inclusive adora o som que sai. Não estou falando do orgasmo, que fique claro. É nojento. Abominável. Enfim, a intenção dela era ajudar-me ou apenas saciar seu desejo em beneficio a seu próprio prazer? De qualquer forma fui salvo pelo meu reflexo certeiro que impediu que acontecesse uma catástrofe maior. Ela nem desconfia da missa, a missa da semana, mas eu que literalmente senti na carne, agora me sinto aliviado por ter sido grosseiro ao boicotar a iniciativa dela. Eu preciso deixar de ter 16 aos trinta anos.

Andy Gercker - Rj 05-11-2010

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