21 junho 2009

RIO PRA NÃO CHORAR

Uma espécie de depoimento, desabafo, testamento, ao som de Cazuza.
Você sabia que as estrelas andam? Pois é... de vez em quando sento na janela e fico olhando atento para o céu. Escolho uma estrela e fixo meus pensamentos nela, geralmente me atrai atenção as estrelas que mais brilham e são justamente essas que andam. Aí concluo: Eu sempre escolho errado. Minha estrela brilha e depois foge e não me diz o que fazer, não me sugere um novo caminho como eu gostaria. Se esconde, fica longe do alcance dos meus olhos. E eu? Eu continuo na janela. Melancólico, triste, sozinho e carente. Como eu gostaria de conhecer alguém que pudesse me mostrar o outro lado da estrela. Alguém que me completasse, me compreendesse e me levasse para longe, para bem longe desse desespero. Protegendo-me, preenchendo esse vazio medonho que sinto no peito. Aqui tudo é lindo. Negros e brancos, ricos e pobres, pobres em cima de ricos – literalmente – o contraste cruel encanta, a praia ao pé da favela, o pôr-do-sol atrás da água, a maresia... O Rio é uma pintura. E eu querendo ser tinta. Ah! Como eu gostaria de estar inserido nessa tela, fazendo parte dessa obra. Interagindo. Mas raízes são raízes, posso me podar, me mutilar. Mas minha raiz se mantém presa. Resistente. Meus pensamentos vão e vem. É você, é ele, são elas, todos, sinto falta de todos, meus amigos, minha família, o cheiro da minha família, a figura única de minha mãe. Mas como sou cruel. Digo que sinto falta de todos e fico querendo estar do outro lado da estrela. Com outro alguém. Assim sou e vou indo: atrás daquilo que não sei. Carente, com uma esperança que nunca cessa, com essa angustia cinza, inseguro com o espelho, ansioso, curioso, desconfiado, dramático, ansioso, saudosista, ansioso, persistente, ansioso, choroso, divertido, divertindo, se enganando, enganando, ansioso, aproveitando, aproveitado, se aproveitando, ansioso. Um pulso tenso, um ar quente, uma lágrima discreta, uma voz divertida e rouca, uma voz calada, na calada da noite sentado na janela de Botafogo, esperando ansioso o próximo trem para as estrelas.

Andy Gercker
2005/RJ

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