08 outubro 2009

DIALOGO A QUATRO MÃOS E DOIS CORAÇÕES

... logo depois que a embarcação partiu.


- Ouça, ouça essa música. É cafona, mas é bem minha cara.

Ele ouviu. Atento. Vagou por outras esferas do tempo. Pra encontrar sentido. E respondeu:

- O bom senso você não perdeu, é cafona sim, mas também não perdeu o bom humor, é que de tão delicadamente cafona, confesso, é possível até chorar... com aquele sorriso no canto dos lábios. Não sei, me fez lembrar uma noite de carnaval barato que passei numa boate de quinta. Onde naquele dia tudo mudou... em mim.
- Nossa. Fiquei emocionado agora.

Ele ri.

- É sério. Bom te encontrar num dia assim.
- Bom? A palavra é bom?
- Hunrum
- É. Eu sou surpreendente.....
- É mesmo.
- Minha maior e não tão reconhecida qualidade!

O outro sem palavras. Ri.

- Mas me explique, porque essa música cafona é sua cara? O que melhor te define nela? Fiquei curioso.
- Ela é cafona, bonitinha (falsamente modesto) E tem a cara de uma pessoa imatura como eu.

E ri novamente, talvez tentando disfarçar o que sentiu ao revelar um trechinho de sua secreta e intocável privacidade.

- Como você está?
- Estou bem!
- Que bom. Está feliz?
- Estou. Mesmo tudo tão agitado, estou.
- O que está acontecendo?
- Coisas boas... pessoas legais.... estou querendo ser melhor também... me reaprendendo!
- Que bom.

Bom? Ele usou a palavra BOM de novo?

- Fico feliz em ver você bem.
- Obrigado. E VOCÊ está feliz?
- Estou tranquilo.
- Estou tranquilo. É ótimo. Então que bom que você está tranquilo.

Fez questão de usar o Bom. Precisava. Comicamente vingativo.

- É chato um pouco, mas é bom sim.

Seria perseguição ou ele usou o Bom outra vez?

- Me permita um ditado: Não há tristeza que perdure nem alegria que nunca acabe....

Bem possível que a estrutura da frase estivesse comprometida. Mas a idéia foi dita.

- E assim é.

De repente a música volta sem avisar.

- A música começou tocar de novo... e agora fiz outra leitura... talvez eu tenha dito bobagens anteriormente.

Ele fala rindo:

- Eu adorei. A leitura feita anteriormente.
- Menos mal, como você não tinha dito nada... adquiri essa culpa.... mas tudo superado já.
- Mente brilhante.
- Será outra qualidade minha não tão reconhecida?
- Provavelmente.
- Estou me reaprendendo muito rápido desse jeito. E já estou ficando soberbo.
- Você sempre foi muito inteligente, se é que isso ajuda nesse momento.
- Ajuda sim, alimente meu ego por favor....
- Pois tenho vários adjetivos na manga pra você.
- Uau. Destile-os. E me encharque de coisa boa.
- Você é extremamente inteligente, sensível... se bem que as vezes até demais. Opa, sim elogios, Você é decente, tem bom caráter, romântico, LEAL, mal humorado e sim, isso é um adjetivo positivo. Você é bonito, porque o físico também conta. É criativo, divertido, simpático, mas só quando quer.
- Estou adorando.
- Tenho orgulho de ter você na minha vida

Uma leve pausa no tempo. Um pequeno silêncio para aquele que ouve. E o que falava continua:

- Talentoso. Você brilha no palco. Cresce. Cresce mesmo. E olha que entendo lhufas disso.
- E? quero mais...
- Cansei.
- Poxa. Mas adorei, muito obrigado, vou dormir bem durante uma semana pelo menos.
- Exagero. Você sabe disso tudo e ainda é pouco.
- Pena que certas palavras se atrasam e assim perdem a embarcação. Aí ficam ali, naquele espaço do podia ter sido e não foi.
- Pois é.

E abaixa os olhos.

- O que é isso? Sorria. Era isso que você queria.

Instante que merece uma reflexão. Não se trata de grosseria. É de fato.

- Assuma.
- Voltando ao estado natural.
- Eu?
- Sim. Brabo comigo.
- Não, não me entenda errado... acontece que deixo a acidez escorrer as vezes, me perdoe. Não esqueça que estou me reaprendendo. Tentando ser melhor. Ouça o que falo prestando atenção nos sorrisos invisíveis.
- Enfim.

Pensa rápido assim: Em... Fim. A caminho de. É. Acho que sim.

- Adoro você, sempre vou sentir isso!

Outro instante digno de reflexão. ...sempre vou sentir isso... Será sempre mesmo? Até quando é capaz de durar esse sempre? Silêncio, ele continua:

- Seja sarcástico, seja querido...

Anuncia que vai partir.

- Tenho que ir.

...

- Obrigado. Irei guardar suas palavras como um presente.

Ambos sorriem. Porque não resta outra coisa.

Em... Fim.

Andy Gercker - Curitiba 07 out 2009

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